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E a estrela parou sobre uma cadeira de rodas

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Mensagem do Reitor-Mor aos leitores do Boletim Salesiano.

Tenho o costume, quando me é possível, de escrever esta saudação partilhando alguma coisa que vivi e que, por um motivo ou por outro, me impressionou.

O dia da Epifania do Senhor, passei-o na minha cidade natal, Luanco, nas Astúrias. Naquele magnífico recanto da terra, respirei em paz em contato com as minhas raízes e com o mar e a natureza que me viram nascer e crescer, e também com os meus conterrâneos. Naquele dia fui celebrar a Eucaristia. O pároco da localidade havia-me concedido amavelmente este privilégio, enquanto ele se deslocava a outra das paróquias a ele confiadas. Assim pudemos celebrar esta solenidade em mais comunidades cristãs.

Quero dizer-lhes que foi uma manhã em que o Senhor me proporcionou encontros inesperados e em que, ao tomar conhecimento da situação de algumas pessoas, o meu coração ficou repleto da certeza de como o Senhor consola e conforta mesmo quando a dor, a doença ou a limitação se instalaram em algumas vidas.

Iniciei o meu dia, antes de celebrar a Eucaristia, visitando um senhor de idade que durante muitos anos foi médico da minha terra. Era um grande médico de família e um crente. Entre outras coisas, havia sido aluno salesiano em Salamanca. Durante anos e anos foi uma pessoa de quem os meus pais me falavam quando iam ao médico.

Nesta visita familiar que lhe fiz, em resposta ao convite da sua filha, encontrei um homem de fé que me disse que, como médico, podia dar apenas uma parte do muito que havia recebido de Deus e que agora, com uma incômoda doença, só pedia ao bom Deus que o preparasse para o encontro com Ele. A sua convicção e a sua paz eram tais que fui celebrar a Eucaristia havendo já recebido a minha dose de “boa palavra ao ouvido”.

Nas mãos de Deus

E na Eucaristia encontrei, como em outras ocasiões, um jovem dos seus 30 anos que, devido a um acidente, há anos que anda numa cadeira de rodas. Mesmo em cadeira de rodas, foi com sua mãe para a Índia para estar em contato com os mais pobres dos pobres. E o meu jovem amigo impressionou-me pela serenidade, o sorriso e a alegria com que vive no seu coração; a mesma alegria com que participa na Eucaristia diária e com que recebe o Senhor. E este jovem amigo teria certamente tudo para se lamentar da “sua pouca sorte”, ou pior ainda: poderia atribuir a culpa a Deus, como tendemos a fazer quando alguma coisa leva a melhor sobre nós. Mas não, ele vive simplesmente sem se lamentar e está agradecido pelo dom da vida mesmo numa cadeira de rodas. No fim das celebrações, quando o vejo, cumprimentamo-nos sempre e as suas palavras são sempre de agradecimento, mas sou eu quem deveria agradecer pelo grande testemunho de vida e de fé no Senhor da vida que nos dá a todos.

Foi isto que encheu de beleza e de encanto o meu dia da Epifania quando, ao sair da igreja, um casal de meia-idade me cumprimentou e me desejou um bom ano novo. Também eles de rosto muito alegre; vi mais alegria e serenidade no marido (doente de cancro) do que na sua amada esposa (que sofria por ele). Mas ambos me falaram da sua certeza de dever viver este momento e a doença confiando-se e entregando-se a Deus.

Fé de mãe

Por fim, entre todos os cumprimentos escapava-me o último. Uma mãe idosa que, ao apresentar-se, me recordou que alguns anos antes havia perdido um dos seus filhos, falecido de doença, e que atualmente ela tinha um cancro. Pediu-me que a recordasse diante do Senhor. Perguntei-lhe como se sentia e disse-me que sofria, mas era muito confortada pela fé. Garanto-lhes que eu fiquei sem palavra, porque a emoção que senti durante a manhã e os testemunhos de vida que recebi e me baralharam foram muito intensos.

E não podia deixar de prometer as minhas orações a cada um deles, e fi-lo, e ao mesmo tempo dei-me conta, uma vez mais e de modo tão forte, como o Senhor continua a fazer grandes coisas nos humildes, nas pessoas mais atingidas pelas situações da vida, naqueles que sentem que só Ele é verdadeiramente consolação e auxílio.

E tudo isto me parece tão importante que não posso guardá-lo só para mim. Poderia até parecer que não é assunto sobre o qual escrever, talvez porque não seja moda, mas eu oponho-me a tudo o que me impede de partilhar e testemunhar o que é importante, profundo e motivo de esperança na nossa vida.

E não sei porquê, mas tenho a intuição de que muitos leitores se sentirão em sintonia com aquilo que narro e com aquilo que eu mesmo vivi, porque aquilo que lhes conto, acontecido numa manhã da Epifania numa pequena localidade junto ao mar, não acontece só ali. Por outras palavras, faz parte da nossa condição humana e nela o Senhor está sempre ao nosso lado, se lho permitirmos.

Auguro-lhes todos os bens, caros amigos. E continuemos a acreditar que em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis, temos motivo para viver com esperança.

Com informações Salesianos Portugal.