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Mensagem do Reitor-Mor aos leitores do Boletim Salesiano no mês de agosto

Redescobrir o grande valor da proximidade, da amizade, da alegria simples na vida de todos os dias, o valor da partilha, do falar e do comunicar.

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P. Ángel Artime, Reitor-mor salesiano. Foto: SDB.org

Escrevo estas linhas, caros amigos de Dom Bosco e do seu precioso carisma, olhando para as provas do Boletim Salesiano do mês de setembro. A minha saudação é a última coisa a ser inserida: sou o último a escrever, em função do conteúdo do mês. Tal qual como fazia Dom Bosco.

Neste mês, por ocasião do início do ano letivo nas escolas, nos oratórios, gosto de ver que as mensagens têm um sabor tão missionário (e por isso se fala de Filipinas e de Papua-Nova Guiné), e também a simplicidade de uma “missão salesiana” com o sabor local da casa de saúde de Saluzzo.

A leitura do boletim leva-me a apreciar algo que é muito nosso, muito salesiano e que, estou certo, agrada a muitos de vós: refiro-me ao grande valor da proximidade, da amizade, da alegria simples na vida de todos os dias, o valor da partilha, do falar e do comunicar. O grande dom de ter amigos, de saber que não se está só. Sentir-se amado por tantas pessoas boas na nossa vida.

E, pensando em tudo isto, veio-me à mente um testemunho sincero e muito honesto de uma jovem senhora que escreveu ao padre Luigi Maria Epicoco e que ele publicou no seu livro La luce in fondo. É um testemunho que gostaria de partilhar convosco porque o considero a antítese daquilo que procuramos construir todos os dias numa casa salesiana. Esta jovem senhora sente, em certo sentido, que não há sucesso ou realização, se faltar o mais humano dos encontros, das boas relações humanas, e este ano letivo que estamos a iniciar remete-nos para tudo isso.

Esta jovem senhora escreve acerca de si: «Caro Padre, escrevo-te porque gostaria que me ajudasses a compreender se a nostalgia que sinto nestes meses significa que sou estranha ou que mudou algo de importante para mim. Talvez te seja útil que te fale um pouco de mim. Decidi sair de casa quando tinha apenas dezoito anos. E assim cheguei a Milão à procura de trabalho. A minha família não podia pagar os meus estudos. Por causa disso fiquei também zangada com eles. Todas as minhas amigas andavam na azáfama (pressa) de escolher uma faculdade. Eu não tinha nenhuma escolha porque ninguém poderia pagar os meus estudos. Procurei um trabalho para viver e sonhei durante anos com a possibilidade de estudar. Consegui e com imensos sacrifícios tirei a licenciatura. No dia da minha licenciatura não quis que a minha família participasse. Pensava que camponeses com ensino médio não compreenderiam quase nada dos meus estudos. Comuniquei só à minha mãe que tudo tinha corrido bem, e senti as suas lágrimas que por um instante despertaram em mim um sentimento de culpa que nunca havia experimentado. Mas foi questão de pouco tempo. Senti-me realizada só com as minhas forças e nunca pude nem quis confiar em ninguém. Mesmo no trabalho, fiz carreira porque escolhi aliar-me comigo mesma. E não compreendo porque só agora, em pleno lockdown devido à pandemia, explodiu dentro de mim uma saudade da minha família. Sonho contar-lhes tudo aquilo que nunca lhes disse. Sonho abraçar o meu pai. Acordo de noite e pergunto-me se se pode viver uma vida privando-se assim de algumas relações mais significativas. Mesmo as histórias que tive nestes anos, nunca permiti que ultrapassassem a fronteira da verdadeira intimidade. Mas agora parece-me tudo tão diferente. Agora que não posso escolher sair de casa, e ir ter com quem julgo importante, despertou em mim a consciência da grande mentira em que vivi durante todo este tempo.

Quem somos nós sem relações? Talvez só infelizes em busca de afirmações. Agora compreendi que tudo o que fiz, na realidade, fi-lo porque esperava que alguém me dissesse quem eu era de verdade. Mas os únicos que podiam ajudar-me a responder a esta pergunta deitei-os fora cortando as relações. E agora eles arriscam a vida, a centenas de quilómetros de mim. Se estivesse para morrer, gostaria de estar com eles e não com os meus sucessos».

Uma alegria partilhada

Aprecio a honestidade e a coragem desta jovem senhora que me levou a refletir muito sobre a nossa realidade atual. Fez-me refletir sobre o estilo de vida que se está a viver em tantas famílias em que o importante é ter bons resultados. Conseguir uma boa situação financeira, preencher os nossos dias de coisas a fazer de modo que tudo seja rentável, etc.…, mas pagamos preços muito altos por viver sempre e, cada vez mais, não fora de casa, mas fora de nós mesmos. Há o perigo de viver sem centro, isto é, “descentrado”. E acreditem-me, caros amigos, não podem imaginar como isto se nota sobretudo nos rapazes e nas moças das nossas casas, dos nossos pátios e dos nossos oratórios.

O segundo sucessor de Dom Bosco, padre Albera, recorda: «Dom Bosco educava amando, atraindo, conquistando e transformando. Envolvia-nos a todos e inteiramente quase numa atmosfera de contentamento e de felicidade, de que eram retiradas penas, tristezas, melancolias… Escutava os rapazes com a maior atenção como se as coisas por eles expostas fossem todas muito importantes».

O primeiro prazer da vida é sentir-se feliz juntamente com os outros: «Uma alegria partilhada é dupla». A palavra de ordem do educador é: «Eu sinto-me bem convosco». Uma presença que é intensidade de vida.

Narra um biógrafo de Dom Bosco, padre Ceria, que um ilustre prelado, depois de uma visita a Valdocco, declarou: «Vós tendes uma grande riqueza em vossa casa, que ninguém mais tem em Turim nem noutras comunidades religiosas. Tendes um ambiente, em que se entra cheio de aflição e se sai radiante de alegria. O padre Lemoyne anotou a lápis: «E muitos de nós tiveram a prova disso».

Um dia Dom Bosco afirmou: «Entre nós os jovens agora parecem outros tantos filhos de família, todos patrõezinhos de casa; fazem seus os interesses da Congregação. Dizem a nossa igreja, o nosso colégio, a qualquer coisa que diga respeito aos salesianos, chamam-lhe nossa». Por isso este novo ano é uma ocasião para cuidar e cuidar de nós mesmos naquilo que é essencial e mais importante. Para a nossa família.