Por: Agostino Favale
Dom Bosco gostava de ser chamado de “pai”: “Chamai-me sempre de pai e serei feliz”. E, realmente, todos os que o conheceram, como ex-alunos ou colaboradores, o chamaram assim. Sua paternidade, tonificada pela bondade se exprimia na amorosidade, vivificada pela caridade pastoral.
Nos tempos de Dom Bosco, a centralidade do pai na família e o respeito dos filhos eram um fato cultural e um ato virtuoso. As ideologias atuais expressaram dúvidas sobre a figura do pai e o papel por ele exercido no passado de forma mais paternalista do que dialógica, mais impositiva do que persuasiva, mais inclinada a suscitar temor do que a apoiar e encorajar.
No plano humano, a paternidade de Dom Bosco, tanto nas suas relações pessoais como nos seus escritos, aparece como um desvelado dom total de si mesmo, oferecido aos jovens mediante a escuta, o raciocínio, a persuasão, a exortação e o encorajamento. Repetia-lhes: “Em qualquer dia, a qualquer hora, podeis contar comigo, especialmente nas coisas da alma. Da minha parte, eu me dou totalmente a vós: pode ser pouca coisa, mas quando vos dou tudo, quer dizer que não reservo nada para mim”.
Com a estratégia da espera, mas sem perda de tempo, encontrando rapazes e jovens necessitados, Dom Bosco se aproximava deles, falava com eles, animava-os a ter confiança e, solicitando seu empenho e colaboração, oferecia-lhes assistência material e espiritual.
Paternidade amável
A dedicação total de Dom Bosco ao serviço da promoção humana, cristã e social dos jovens foi sempre acompanhada por ele por uma atitude de constante amabilidade. Não é de estranhar, portanto, o fato de que o papa João Paulo II o tenha chamado, como padre educador, o “profeta da bondade”, um “gênio do coração”. Obviamente, “coração” é entendido no sentido bíblico para significar “o centro radical da pessoa”, isto é, o “eu”. Por sua vez, este se torna ao mesmo tempo “o centro de transmissão” daquilo que de íntimo e de bom a pessoa possui e doa aos outros.
Quando se fala de coração em Dom Bosco, escreveu o padre Alberto Caviglia, trata-se de um coração no qual vibrava “a bondade paterna e a ternura materna pelos pequenos e pobres, entre os pequenos”.
Em Dom Bosco, a bondade era um conjunto de atitudes espontâneas, simples e familiares. Exprimia-se no estilo jovial do colóquio pessoal, na atenção, apreço e condescendência para com os jovens, na amizade, na humildade, na paciência, no estímulo para o bem, na racionalidade de suas propostas e decisões. Por isso, ele conseguiu criar com os interlocutores uma atmosfera de confiança recíproca. Essas e outras características fazem ressaltar o que foi visto, experimentado e testemunhado por parte dos que puderam se aproximar de Dom Bosco e fruir da sua bondade paterna. Essa bondade, elevada a sistema, ia direto ao coração dos jovens, deixando neles recordações indeléveis.
Paternidade vigilante
Dom Bosco foi sempre pai, mas não um pai permissivo que renunciasse às suas responsabilidades. Todos sabiam que ele era intransigente em questão de furto, de blasfêmia e de escândalo. Dizia de si mesmo: “Dom Bosco é o homem mais bondoso que haja na face da terra: estragai, quebrai, fazei travessuras, ele saberá compreender-vos; mas não tenteis arruinar as almas, porque então se torna inexorável”. Nesses casos, encarregava os seus colaboradores para intervir e corrigir.
Contudo, mesmo perante quem errava, ele não desanimava na tentativa de recuperá-lo. Chamava pessoalmente o culpado e o exortava a se arrepender. No caso em que a pessoa tivesse que ser mandada embora, ele mesmo providenciava para que retornasse para a família ou junto de algum benfeitor que o pudesse ajudar a reconstruir a própria vida de modo correto.
Caridade pastoral
Dom Bosco sabia que a ordenação presbiteral lhe havia conferido um dom especial de graça. Este dom o impelia, com a ajuda do Espírito Santo, a realizar um apostolado de natureza religiosa em favor dos jovens, sob o olhar de Deus Pai, de cujo amor “recebe o nome toda paternidade no céu e na terra” (Ef 3,14). Pela maneira como exercia este seu apostolado, ele exprimia uma paternidade espiritual, animada pela caridade pastoral. Essa caridade, envolvendo suas qualidades humanas, estava toda voltada para fazer crescer nos jovens a vida nova e a filiação divina, recebidas no batismo. Os principais campos de ação dessa paternidade eram para Dom Bosco o colóquio pessoal com os jovens, a pregação e o sacramento da confissão.
O padre Filipe Rinaldi assim escreveu a respeito dessa paternidade espiritual, penetrada de equilíbrio e de bondade: “Toda a vida de Dom Bosco é um tratado completo que vem do Pai celeste (Ef 3,15) e que ele praticou na Terra em grau excelso, quase único, para com os jovens e para com todos” (Atos do Conselho Superior, 26/04/1931, p. 939).
O historiador francês da Igreja, Daniel Rops, captou bem a harmoniosa interação entre natureza e graça, ação e contemplação em Dom Bosco, dizendo: “Tudo é humano em Dom Bosco e, ao mesmo tempo, tudo emite uma luz sobrenatural”. Graças a essa interação, Dom Bosco, dócil à ação do Espírito, foi de fato para os jovens do seu tempo um sinal crível do amor e da predileção de Deus.