Sobre o Primeiro Anúncio poderíamos compará-lo ao enamoramento entre duas pessoas. Quando elas, provenientes de ambientes diferentes, se encontram e sentem despertar um sentimento recíproco. Pode-se ainda referir como o testemunho de cada cristão e de toda a comunidade cristã; toda atividade ou o conjunto de atividades que favoreçam uma experiência irresistível e emocionante de Jesus que, sob a ação do Espírito Santo, suscita a busca de Deus e um interesse pela sua Pessoa, enquanto se salvaguarda a liberdade de consciência, que em última análise, conduz a uma adesão inicial a Ele ou à revitalização da fé n’Ele.
Vemos esta ação claramente em Jesus, que percorria as cidades e povoados, anunciando a Boa Notícia do Reino. Não esperava que as pessoas fossem até Ele. Ao contrário, Ele ia até as suas casas, nas aldeias e nas cidades para encontrar as pessoas no exercício das suas habituais atividades quotidianas. Não entregava logo a eles uma doutrina para ser compreendida, nem um preceito ao qual deveriam obedecer, mas os convidava a fazer uma experiência pessoal e a permanecer com Ele.
Um clássico exemplo é o encontro de Jesus com a Samaritana. O poço torna-se o lugar do encontro entre Jesus e a Samaritana, que acaba transformada. Jesus toma a iniciativa e faz um pedido: “Dê-me de beber.” O pedido não somente abre a mulher ao diálogo que dissipa o ódio étnico e amplia os seus horizontes, mas a leva a enfrentar a verdade de si mesma. Ao final do encontro, a mulher corre ao povoado para anunciar Jesus aos seus conterrâneos.
O primeiro anúncio em São Paulo
São Paulo é um modelo incomparável de primeiro anúncio. Ele sentiu que sua missão era promover o primeiro anúncio do Evangelho para fundar novas comunidades. Ele afirmou claramente: “Fiz questão de anunciar o Evangelho onde o nome de Cristo ainda não havia sido anunciado, a fim de não construir sobre alicerces que outro havia colocado”. Fazia isso especialmente através do seu testemunho de vida e da pregação.
Aos Coríntios, aos quais anunciou o Evangelho, reafirma: “Não é nossa intenção dominar a fé que vocês têm, mas colaborar para que vocês tenham alegria”. No centro da experiência cristã de Paulo existe um acontecimento concreto: conheceu Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Conhecer nesse sentido exige entrar em comunhão e desenvolver uma relação íntima de modo tal que ele mesmo faça como Cristo. O fruto desse conhecimento é a mudança radical e permanente dos valores, do modo de ver a realidade e, especialmente, do modo de ver a si mesmo diante de Deus.
Paulo se sentia à vontade em um contexto urbano onde podia usar a sua capacidade de pregador popular. Procurou levar o Evangelho a todos. Estabeleceu relações profundas com as pessoas e as comunidades por ele fundadas, criando um movimento de pessoas empenhadas na causa do Evangelho.
O primeiro anúncio na comunidade cristã primitiva
O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta os membros da comunidade cristã como pessoas de um estilo de vida simples. Eles eram testemunhas vivas do Evangelho, uma boa notícia que muda a vida; o apresentavam não como um sistema doutrinário no qual acreditar, nem como uma série de prescrições morais a serem observadas. O Evangelho era transmitido com calor humano, testemunho de vida e de amor. Era uma comunidade impregnada pelo Espírito, identificado como princípio vital. A paixão apostólica faz com que os evangelizadores levem Cristo aos outros com criatividade e ardor.
Os primeiros cristãos eram conscientes de que é o Espírito Santo que ajuda as pessoas de qualquer idade, sexo, raça ou cultura, a encontrar-se com o Evangelho. O Espírito empurra e precede o evangelizador, sustenta a sua paixão apostólica, enquanto prepara também o destinatário do primeiro anúncio a nutrir a sua paixão, para buscar a verdade e a plenitude de vida.
Enfim, é o encontro pessoal com Jesus que desencadeia a fé n’Ele. Também os primeiros cristãos apresentavam o encontro com Jesus como um chamado à conversão da vida precedente a uma nova vida na fé. A pregação apostólica retomou os diferentes aspectos da vida humana à luz dos ensinamentos de Jesus. O cristianismo era considerado um ‘caminho’. Portanto, o primeiro anúncio não é outra coisa senão o início de um caminho, que anuncia uma promessa e exige fidelidade a um percurso espiritual e comunitário.
Padre Tiago Eliomar G. de Morais, SDB, é animador Animador Vocacional e Missionário da Inspetoria Salesiana de São Paulo. Escreveu este artigo para o Boletim Salesiano com base no livro O primeiro anúncio hoje, de Alfred Maravilha, SDB, atual inspetora em Papua Nova Guiné.
Fonte: Boletim Salesiano