A MENSAGEM DO REITOR-MOR, Card. Ángel Fernández Artime
Amigos, leitores do Boletim Salesiano, recebam a minha afetuosa e cordial saudação neste tempo de Páscoa. Num mundo atribulado, abalado por guerras e não pouca violência, continuamos a declarar, a anunciar e proclamar que Jesus Cristo é o Senhor, ressuscitado pelo Pai e que ESTÁ VIVO. E temos muita necessidade da sua presença em corações prontos a acolhê-lo.
Ao mesmo tempo, pude ver o conteúdo do Boletim deste mês, sempre rico e cheio de vida salesiana, que agradeço àqueles que o realizam. E ao ler as páginas, antes de escrever a minha saudação, encontrei-me na presença de muitos lugares salesianos no mundo onde chegou Maria Auxiliadora.
Devo confessar que quando nos encontramos em Valdocco, na magnífica Basílica de Maria Auxiliadora, neste lugar Santo onde tudo fala da presença de Deus, da proteção materna da Mãe e de Dom Bosco, não conseguia imaginar como se havia cumprido o anúncio de Maria Auxiliadora a Dom Bosco, dizendo que daqui, deste templo mariano, a sua glória se difundiria pelo mundo. E assim é.
No serviço destes dez anos como Reitor-Mor encontrei centenas de presenças salesianas no mundo onde a mãe estava presente. E também desta vez, queria narrar-vos a minha última experiência. Foi na minha última visita às presenças salesianas entre o povo Xavante que pude experimentar a Providência de Deus e o bem que continua a fazer-se e que continuamos a fazer entre todos nós.
Pude visitar diversas aldeias e cidades no Estado do Mato Grosso. Estive em São Marcos, na aldeia de Fátima, em Sangradouro, e à volta destes três grandes centros visitámos vários outros, entre os quais o lugar em que os primeiros salesianos se instalaram com o povo Xavante, um povo que era martirizado pelas doenças e em perigo de extinção, e que, graças à ajuda dos missionários, aos seus medicamentos e a dezenas de anos de presença afetuosa no meio deles, foi possível atingir a realidade de hoje com mais de 23.000 membros do povo Xavante. Esta é a Providência, o anúncio do Evangelho e ao mesmo tempo a viagem com um povo e a sua cultura, conservados hoje como nunca antes.
Tive a oportunidade de falar com diversas autoridades civis. Agradeci por tudo o que pudemos fazer juntos para o bem deste povo e dos outros. E ao mesmo tempo permiti-me recordar com simplicidade, mas com honestidade e legítimo orgulho que quem acompanha este povo desde há 130 anos, como neste caso fez a igreja através dos filhos e das filhas de Dom Bosco, é digno de um olhar respeitoso e de que escutem a sua palavra. Fizemos tudo o possível para nos unirmos às vozes que pedem terra para estes colonos. A defesa da sua terra e da fé vivida com estes povos (neste caso com os Boi-Bororo) foi a causa do martírio do Salesiano Rodolfo Lukembein e do indígena Simão, em Meruri.
Ao percorrer centenas de quilómetros de estrada, gostei de ver muitos cartazes que anunciavam: “Território de Reserva Indígena”. E pensei que esta para a melhor garantia de paz e prosperidade para este povo.
E que relação tem o que estou a descrever com Maria Auxiliadora? Simplesmente tudo, porque é difícil imaginar um século de presença salesiana (SDB e FMA) entre os indígenas Xavantes e não haver transmitido o amor pela mãe de nosso Senhor, e nossa mãe.
Em São Marcos, todos ou quase todos os habitantes da aldeia, juntamente com os nossos hóspedes, terminaram o dia da nossa chegada com uma procissão e a récita do Santo Rosário. A imagem da Virgem era iluminada no coração da noite no meio da selva. Idosos, adultos, jovens e muitas mães que levavam as crianças adormecidas numa cesta aos ombros estavam em Peregrinação. Fizemos diversas passagens em diversos bairros da aldeia. Sem dúvida a Mãe, naquele momento, e sem dúvida em muitos outros estava a atravessar a aldeia de São Marcos e a abençoar os seus filhos e filhas indígenas.
Não posso saber se Dom Bosco sonhou com esta cena da Virgem no meio da aldeia Xavante. Mas não há dúvida de que no seu coração havia este desejo, com este povo e como muitos outros, seja na Patagónia, seja na Amazónia, seja no rio Paraguai….
E aquele desejo missionário realizou-se na Amazónia desde há 130 anos. Como escrevi no comentário do Lema, a dimensão feminino-materno-mariana é talvez uma das dimensões mais empenhativas do sonho de Dom Bosco. É próprio Jesus que lhe dá uma mestra, que é sua mãe, e que «o seu nome deve perguntá-lo a Ela»; Joãozinho deve trabalhar “com os seus filhos”, e será “Ela” que se ocupará da continuidade do sonho na vida, que o tomará pela mão até ao fim dos seus dias, até ao momento em que compreenderá realmente tudo. Há uma enorme intencionalidade em querer dizer que, no carisma Salesiano em favor dos rapazes mais pobres, carenciados e privados de afetos, a dimensão do tratar com “doçura”, com mansidão e caridade, tal como a dimensão “mariana”, são elementos imprescindíveis para quem quer viver este carisma. Sem Maria de Nazaré falaríamos de outro carisma, não do carisma Salesiano, nem dos filhos e das filhas de Dom Bosco.
Nesta festa de Maria Auxiliadora, no dia 24 de maio, em momentos diversos, Maria Auxiliadora estará presente nos corações dos seus filhos e das suas filhas em todo o mundo, quer em Taiwan e em Timor-Leste, quer na Índia, quer em Nairóbi (Quénia), quer em Valdocco, quer na Amazónia e na pequena aldeia de São Marcos, que não é nada para o mundo, mas que é um mundo inteiro para este povo que conheceu a Auxiliadora.
Bom mês de Maria. Boa festa de nossa Senhora Auxiliadora para todos, de Valdocco ao mundo inteiro.