O carisma de um fundador, além de possuir o dom da graça do Espírito Santo que o impulsiona a dar a vida a uma ou mais novas instituições na Igreja, contém também o poder de atração capaz de criar um parentesco espiritual e uma afinidade apostólica entre pessoas diferentes, que convergem juntas na construção de uma Família que não é baseada em vínculos de sangue. Isso aconteceu com Dom Bosco, que deu origem a um vasto movimento de pessoas: a “Família Salesiana”. Quantos são os grupos dessa família e como se configuram institucionalmente, quais as características comuns e as diferenças, quais os modos operacionais?
Grupos de filiação
Os grupos que até agora somam 30, apresentam-se de várias maneiras e com títulos diversos e foram oficialmente reconhecidos na Família Salesiana. Em ordem cronológica e de importância, o primeiro título de filiação compete aos três grupos fundados por Dom Bosco: os Salesianos, as Filhas de Maria Auxiliadora e os Salesianos Cooperadores.
Sob a influência do Espírito Santo, Dom Bosco amadureceu pouco a pouco o projeto de dar vida a uma instituição religiosa em prol da educação da juventude. Durante sua primeira viagem a Roma, em 1858, falou sobre isso a Pio IX, que o encorajou a realizá-lo. Dom Bosco fundou a Sociedade de São Francisco de Sales em 18 de dezembro de 1859. Os Salesianos eram, então, 29, distribuídos em três casas. No início de 2014, os Salesianos professados eram 14.853, distribuídos em 1.803 casas espalhadas em 132 países dos cinco continentes.
O desejo de ampliar as fronteiras da educação também à juventude feminina induziu Dom Bosco, com a colaboração de Maria Domingas Mazzarello, a fundar em Mornese, em 5 de agosto de 1872, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. As jovens que naquele tempo receberam o hábito religioso do Monsenhor Giuseppe Sciandra, bispo da diocese de Casale, e fizeram os votos trienais, eram 15. No início de 2014, as irmãs professas do Instituto eram 12.959, distribuídas em 1.408 casas localizadas em 94 países dos cinco continentes.
Dom Bosco soube também valorizar os leigos na educação dos jovens. Em 9 de março de 1876, ele obtém de Pio IX um “breve” de aprovação dos “Cooperadores Salesianos” (hoje Salesianos Cooperadores), uma associação de leigos fiéis, homens e mulheres, que se empenham com a promessa de atuar como cristãos no mundo e a colaborar com os salesianos, compartilhando o patrimônio pedagógico e espiritual. No início de 2014, eram cerca de 30.000. Dom Bosco foi também o fundador da Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora (hoje Associação de Maria Auxiliadora) para difundir a devoção.
Durante o século XX e início do século XXI, formou-se um segundo grupo de filiação à Família Salesiana. Trata-se dos institutos religiosos ou seculares e de associações variadas de apostolado, fundadas pelos salesianos, que tendo vocações específicas, foram chamados para o ensino e experiência pedagógica-espiritual de Dom Bosco, por isso pediram e foram acolhidos na Família Salesiana. Fazem parte também as duas Confederações Mundiais de Ex-alunos dos Salesianos e Ex-alunas das Filhas de Maria Auxiliadora.
O título jurídico de filiação dos vários grupos à Família Salesiana, em pedido manifesto e segundo critérios determinados, é conferido por carta pelo Reitor-mor, reconhecido como sucessor de Dom Bosco e como centro vital de unidade da Família.
Traços comuns e diversidade
Para o parentesco espiritual que os une e pela afinidade de apostolado que buscam, os vários grupos da Família Salesiana têm traços comuns e traços diferenciados. Na base dos traços comuns está a consagração batismal que insere os membros dos vários grupos no mistério trinitário, com o consequente chamado à santidade, e os introduz na comunhão da Igreja. Seguem, depois, a participação na vocação salesiana e em qualquer aspecto relevante na sua missão da juventude, popular e missionária voltada a promover um humanismo cristão aberto à solidariedade e à partilha; o chamado ao carisma salesiano, a referência à experiência espiritual de Dom Bosco e a devoção a Maria Auxiliadora. Esses e outros traços semelhantes alimentam a unidade entre os vários grupos sem prejudicar as suas diferenças. Os dons de Deus são ampliados às pessoas ,não para uniformizá-las, mas para estimulá-las a trabalhar juntas na difusão do Evangelho e objetivando um enriquecimento espiritual recíproco.
Entre as diferenças mais significativas, emergem dos grupos as diversas vocações específicas à vida consagrada religiosa ou à vida consagrada secular com uma profunda autonomia formativa, espiritual, apostólica, econômica e de governo; a presença dos cristãos leigos que exercem vários ministérios a serviço do povo de Deus; a maneira na qual cada grupo vive o projeto da vida salesiana codificado nos respectivos estatutos e o executa nos variados contextos em que está inserido.
A Família Salesiana se apresenta hoje como uma comunidade carismática e eclesial, formada por vários grupos que partilham, de formas diferenciadas, o carisma do fundador Dom Bosco e a comunidade jovem, popular e missionária segundo os dons de natureza e das graças recebidas. Com relação à autonomia, identidade, estrutura e diversidade de cada grupo, os seus membros empenham-se em cultivar a comunhão da vocação de base ou da afinidade que os une à Família Salesiana e isso implica uma certa ação com convergência fraternal.
Padre Agostino Favale, SDB
Consultor da Congregação para a Causa dos Santos