Depois de abordar variados aspectos da comunicação, em todas as suas formas, neste mês de maio o padre Gildásio Mendes dos Santos, conselheiro geral para a Comunicação Social expõe uma nova temática: ‘Dom Bosco comunicava em rede’
A comunicação digital é essencialmente interativa e ocorre em rede.
Comunico porque existe o outro, o grupo, a comunidade digital na rede. A forma de comunicar é horizontal, não possui as mesmas categorias hierárquicas do estilo de comunicação tradicional. Uma imagem do estilo de comunicação horizontal é o pingue-pongue. É preciso haver alguém para jogar junto. Durante o jogo, estamos no mesmo nível de relacionamento interativo.
Imaginemos um adolescente se comunicando digitalmente com seus pais e professores. Ele possui todos os meios e dispositivos digitais para se comunicar, domina a linguagem e os símbolos para expressar seus sentimentos e sua visão das coisas. Na interatividade, a comunicação facilita a espontaneidade e até mesmo a improvisação. Pensemos que este filho mande videoclipes para o pai e peça que o pai também lhe mande videoclipes das músicas de que gosta. Imaginemos a interação quando enviamos fotos de parentes ou da natureza, e os comentários deles.
Isto, entretanto, não significa que na comunicação digital não exista hierarquia. Ela existe, e os jovens sabem o que significa, sobretudo quando se trata de informações que recebem formalmente da escola, como, por exemplo, instruções de segurança.
A comunicação interativa abre uma grande possibilidade de expressão criativa como a criação de vídeos pessoais para compartilhar com os amigos na rede.
A interatividade facilita a comunicação em rede. A Internet e as redes sociais formam uma grande rede. De certa forma, tudo está conectado – o vídeo que posto no YouTube, o texto que compartilho em uma rede social, o comentário que faço em um blog – permitindo que tudo ocorra de forma instantânea e convergente.
A comunicação em rede faz parte da natureza humana. O ser humano está sempre procurando os outros: precisa do grupo. Para realizar um projeto e torná-lo conhecido, é necessária uma rede de relacionamentos. Pensemos, por exemplo, num autor que deseje publicar seu livro. Para que isso ocorra, é preciso envolver outras pessoas que colaborem na elaboração da capa, na edição e impressão do livro, na publicidade, na venda, na distribuição, etc. Comunicar é viver no universo da rede de relações humanas e culturais.
Dom Bosco, como educador-comunicador, criou uma imensa rede de comunicação. Uma rede humana de relações, de confiança e de divulgação pelos jovens mais pobres.
A partir de uma ideia, Dom Bosco escrevia uma carta; de uma carta nascia um livro. De um livro, ele imaginava toda uma série. De uma série nascia uma editora; da editora criava o Boletim Salesiano. Do Boletim nascia uma rede de contatos com muitas pessoas.
Sua mente – brilhante – era rápida, intensa. Escrevia pensando em criar uma rede de leitores. Educava envolvendo várias pessoas: começava com um pequeno grupo para depois fundar uma congregação – a Congregação Salesiana. Ele era um comunicador que parecia querer seguir, com toda a paixão, a dinâmica evangélica da semente que cai em boa terra.
Dom Bosco aprendia uma canção e logo queria um coro. Do coro, ele queria uma orquestra; da orquestra, queria subir as montanhas para tocar, cantar e animar os jovens. O oratório – com teatro, música, liturgia, divertimento – era uma rede contínua de ação e envolvimento.
Dom Bosco era escritor! Dom Bosco era jornalista! Dom Bosco era um grande comunicador da Igreja!
Dom Bosco foi um grande autor. Escreveu textos diversos: sobre hagiografia, História sagrada e da Igreja, educação, religião e formação, em geral. Existem 1.174 manuscritos dele impressos. Em 1877 fundou o Boletim Salesiano, com o qual colaborou até à morte.
Nos 37 volumes da coleção ‘Opere Edite’, publicados pela LAS entre 1977 e 1987, constam 219 títulos: são biografias, textos de história, manuais de oração, textos jurídicos e regulamentos, hagiografias, catecismos, histórias edificantes. A maioria desses escritos é, ainda hoje, desconhecida pela família espiritual que dele se originou. A lista de textos continuou se publicando ininterruptamente pelos anos afora.
Dom Bosco era um escritor e um editor com uma grande visão de rede já em sua época.
Uma rede formada de gente: pessoas, salesianos, leigos, amigos. Para fazer e dar visibilidade ao bem.
Com grande capacidade de escrita, grande paixão apostólica, uma estratégia para chegar às pessoas, ele foi desenhando uma rede assaz criativa e interessante.
Ele criou uma rede para se comunicar, partindo sempre de uma razão interior, um sonho, uma paixão, um propósito. Seu modo de se comunicar era um verdadeiro caleidoscópio. Um verdadeiro mosaico com cores e desenhos variados. Tudo foi feito para envolver os seus jovens, para promover o protagonismo, crescer… E tudo para a glória de Deus. Sua vontade constante de fazer as coisas nascia do ímpeto de querer fazer a vontade de Maria Auxiliadora.
Para ser bom comunicador importa criar relação pessoal e eficaz com os outros, ser capaz de estabelecer vínculos. Além disso, há que haver presença que conquiste, convença, seja fiel e coerente com seu público, tenha algo de credível para comunicar. Não bastam, pois, as habilidades técnicas. Requer-se criatividade, paixão, relacionamento humano, capacidade de fazer rede em que o conteúdo principal seja o testemunho, a experiência vivida.
Realmente Dom Bosco foi um – grande – comunicador com visão de rede, para comunicar o bem! Este é, pois, o critério fundamental para todos nós que habitamos o digital: promover o bem que se faz, promover as coisas boas que brotam do coração e das ações de tanta gente.