Professor é sempre assim. Apreciado por muitos, detestado por poucos. Todas as pesquisas com alunos apontam que as crianças, adolescentes e jovens têm seus professores e professoras em alta consideração. Se a expectativa em relação aos professores é alta, no entanto, as condições que a sociedade lhes está oferecendo para exercer sua missão, hoje, é de extrema dificuldade e insensatez. Isto quer do ponto de vista salarial e das condições de trabalho, quer do reconhecimento social.
Pesquisas também apontam que a procura por cursos de licenciatura para preparar professores está diminuindo velozmente. Disso já nos ressentimos hoje. Amanhã a questão será bem mais grave.
Todos educamos e todos ensinamos
Não concordo com afirmações que dizem que a família educa e a escola ensina. Todos educamos e todos ensinamos, ao mesmo tempo. As responsabilidades são diferentes, mas todos educam. É claro que a família continua sendo a primeira e principal educadora das novas gerações. No entanto, a influência educativa e a vida das pessoas se alargaram tão fortemente que já não é mais possível fazer esta distinção. Educar é acompanhar com amor o crescimento e o desenvolvimento das pessoas, sobretudo das novas gerações… Em todas as suas dimensões.
O dia 15 de outubro é dedicado aos professores e professoras. A eles nossa homenagem. Este dia tão especial nos leva a aprofundar alguns aspectos desta missão imprescindível na comunidade.
Professor é, sobretudo, quem aprende…
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. Esta expressão de Guimarães Rosa é altamente verdadeira. Só tem condição de ensinar quem sabe aprender. Em educação acontece um movimento circular. Todos aprendem de todos. Uma criança ensina. E como! Um adolescente, mesmo sem falar, ensina. O silêncio interpela e fala. Basta saber escutar. O melhor professor é o que mais escuta do que fala. A palavra é de prata e o silêncio é de ouro. O professor ensina a escutar, em um mundo de muitas bocas e poucos ouvidos.
Três atitudes fundamentais
Três atitudes são fundamentais para um professor e uma professora na arte de educar. A primeira é inserir-se no meio das pessoas. Há coisas que os livros não ensinam, só a vida. Quanto mais próximo das novas gerações, mais se educa. A segunda é estudar. A vida, hoje, está muito complexa. Professor é quem vê e é capaz de decifrar e interpretar o mundo. Isto é sabedoria. Saber, muitos sabem. O importante é o saber ligado com a vida. A terceira é a experiência de Deus. Jesus chamou a Deus de Mestre. Quando nossa fraqueza pesa, entram de cheio a graça e a ternura de Deus. No coração de Deus o professor e a professora encontram não apenas consolo, conforto e estímulo, mas sabedoria para educar as novas gerações.
Professor mediador cultural
O professor é mediador cultural. Discute-se, hoje, sobre a necessidade do professor para ensinar as novas gerações. De fato, o advento da internet com suas bilhões de informações podem levar a pensar assim. Na realidade, a primeira e principal função do professor não é a de repassar conteúdos. Esta continua sendo importante e imprescindível. Sua principal missão é a de ser mediador cultural.
Um professor ou uma professora recebe em sua sala de aula um grupo de trinta crianças. Elas são de gêneros diferentes, culturas diferentes, religiões diferentes, éticas diferentes, etnias diferentes, ideologias diferentes, classes sociais diferentes… Aí encontra-se um retrato do que é a sociedade. Qual a missão do professor e professora? É combater a desigualdade e promover a diferença.
Uma coisa é a desigualdade e outra é a diferença. Desigualdade é injustiça e como tal precisa ser desvelada e combatida. Diferença é riqueza, dom de Deus e, como tal, deve ser promovida. A missão do professor e da professora é muito desgastante porque mexe com situações gravíssimas. Que professor não se depara todos os dias com desnutrição infantil, com fome, com doença, com drogados, com prostituição infantil, com gravidez precoce, com violência familiar…? Por outro lado, o professor e a professora se deparam também com crianças e adolescentes generosos, criativos, inteligentes, altruístas, magnânimos… Isto todos os dias…
Apesar de tudo, eu resisto…
Todo professor e toda professora não podem nunca renunciar a três realidades. A primeira é a memória. A experiência da humanidade não se pode perder na escuridão do tempo. A história continua sendo mestra da vida. A segunda é a profecia e a militância. Nada na vida pessoal, comunitária e social se consegue de mão beijada. Tudo é fruto de muita luta, dedicação, esforço, partilha generosa. Um pai e uma mãe lutam pela vida de seu filho. Um professor e uma professora lutam por vida em abundância para seus alunos. A terceira é a esperança… O futuro começa hoje, mas existe. Quem educa o faz porque acredita no futuro melhor para todos. O amanhã será melhor que o hoje porque a esperança ativa está sendo semeada.
Um apelo forte
Incentive o professor ou a professora de seu filho ou filha. É com ele ou ela que você está partilhando a sua educação. Elogie quando merecer. Corrija com amor quando precisar. Transforme o professor ou professora de seus filhos em seu professor ou professora também. Em todas as ocasiões dê crédito ao professor ou professora enquanto a realidade ou as pessoas não lhe provarem o contrário… Mesmo assim, continue acreditando e rezando por eles. Afinal, você entregou a eles o que há de mais precioso em sua vida: seu filho ou/e sua filha.
MARCOS SANDRINI
Diretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.