A comunidade indígena Boe-Bororo, da presença missionária de Meruri (MT), realizou segunda-feira (18/12), o Ritual de Nominação para uma criança e um salesiano, o Tirocinante Roberto Brito dos Santos, que foi acolhido na casa de uma Mãe das Almas do clã Bokodori.
O evento foi prestigiado por toda a comunidade dos povos originários daquela localidade e também o chefe de cultura, que com a cabaça entoou os cantos rituais. Após os ritos iniciais todos se dirigiram ao “Bororo”, espaço ao lado da casa central (Baito). No primeiro momento foi apresentado os padrinhos de cada batizando, logo em seguida aconteceu o pulo ritual, onde o padrinho faz a sua dança, dando três pulos enquanto se abre os braços três vezes e toca o instrumento de sopro (Pana) e vai em direção ao batizando e o apresenta para a comunidade. Após o pulo cada padrinho canta o nome do batizando na língua Boe. Momento na qual a comunidade irá saber quem serão os padrinhos dos que irão receber os nomes.
O chefe canta o “kidoguro Paro” que significa canto da resina. Enquanto o chefe e as mães das almas entoam o canto, os parentes dos batizandos preparam as indumentárias que serão utilizadas no último rito da celebração; o canto continua até o amanhecer. O ritual de nominação na cultura Boe tem o mesmo sentido que o do Batismo Católico Apostólico Romano, no qual a criança, adolescente ou adulto é introduzido e reconhecido como pertencente àquela cultura.
Para o Tirocinante Roberto, “foi uma experiência de profundo aprendizado e maior amadurecimento carismático, pois, temos no nosso carisma salesiano o ardor missionário. No pátio da Missão Salesiana de Meruri pude fazer a experiência da doação de vida aos jovens. Assim como os Servos de Deus Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo deram a vida pelo povo Boe, também, hoje, sou convidado a doar a minha vida, pelo povo Deus em todas as dimensões do carisma salesiano, e me leve a anunciar a boa nova do Evangelho. Com o meu lema vocacional “Eu te darei Pastores conforme o meu coração” (Jr 3,18), quero seguir a caminhada como salesiano sendo um pastor dos jovens”, enfatizou.
Após o ritual, o padrinho anuncia o nome que a criança recebeu, em voz alta, para que todos possam ouvir, apresentando a criança em direção ao sol, que representa a vida. Ao termino é servido a comida para todos os presentes. A refeição tem o sentido de ceia e comunhão entre os irmãos da comunidade.
“Ressurgiu de novo, nasceu de novo, já numa família boe, numa família indígena, num povo, numa comunidade indígena, boe-bororo. Por isso batizamos ele. Uma pessoa iluminada, de muita fé, que ajudou minha família, principalmente com suas orações e dedicação com todos. O Roberto trabalha igual a São João Bosco. Sempre humilde, trata todos como irmãos. Tenho grande esperança nele. Agradeço ao P. Andelson e todos da Missão Salesiana por nos terem enviado ele, e peço que nunca se esqueçam de nós. Ele não poderia receber presente melhor que este, de ser batizado na minha comunidade, na minha família, boe-bororo”, enaltece a líder indígena Maria Pedrosa Urugureudo.
Na comunidade boe-bororo Roberto passa a se chamar “Koe Atugo”. A tradução é Koe (um colar de Coquinho do cerrado enfeitado com caramujo) Atugo (pintura). O colar de Koe é raro na cultura Boe, hoje quase ninguém faz. “Ele foi batizado com o que tem de mais sagrado para nós”, finaliza Maria Pedrosa Urugureudo.