MSMT – SAGRADO CORAÇÃO MERURI
Localização
Rodovia BR 070 – Km 112
C.P. 14 (CEP: 78620-000) – GENERAL CARNEIRO – MT
C.P. 33 (CEP: 78600-000) – BARRA DO GARÇAS – MT
Contato
(66) 3416-1172
História
Os primeiros salesianos chegaram a esta terra Bororo aos 18 de janeiro de 1902. Eram salesianos, salesianas e leigos, que vieram com o objetivo de desenvolver um trabalho educativo-pastoral em conjunto. O Diretor era o Pe. João Bálzola e a Diretora era a Irmã Rosa Kiste. Construíram a primeira missão na região denominada “toripó” (Tachos). Aí fizeram os primeiros contatos com o Povo Bororo, desenvolvendo posteriormente atividades educativas e de auto sustento.
Devido a problemas com a escassez de água, a Missão foi depois transferida para a região próxima ao Morro de Meruri, às margens do Córrego Barreiro, dando origem à atual Aldeia Meruri, que é a aldeia principal e a sede da Missão Salesiana até hoje.
A história da Missão pode ser mais bem compreendida nos seguintes períodos:
1° Período: de 1902 a 1919
A Missão era composta exclusivamente por índios Bororos atendidos pelos Salesianos e Irmãs, com a colaboração de voluntárias leigas e alguns empregados, primeiro na Colônia Sagrado Coração, nos Tachos. De 1905 até 1921 também se estendeu à Colônia Imaculada, na beira da cachoeira do Córrego Araci, próximo ao Rio Garças. Caracteriza-se pela assistência exclusiva aos Bororos, pois não consta nos registros paroquiais a presença de fiéis não índios na região. A Missão, durante este período, dá aos Bororos assistência econômica, à saúde, à educação e à evangelização.
Em 1903, foi criada a atual Escola Sagrado Coração de Jesus, com o ensinamento de Português, Matemática, Ciências e Práticas Agrícolas para os meninos e oficinas de tecelagem para as meninas. As viagens e os transportes entre Cuiabá e as Missões e entre os diversos centros missionários são feitos a cavalo, em lombo de burro e em carro de bois. A Missão investe em recursos humanos e em recursos econômicos, estes últimos conseguidos principalmente do governo do Estado e da França, através do Pe. Antônio Malan. Durante este período, prevendo a ocupação do território por parte de não índios, a Missão procurou que fossem asseguradas para os Bororos várias áreas que mais tarde integrariam a atual reserva de Meruri.
2° Período: de 1919 a 1941
Conseguidos dois lotes de 25.000 ha., doados pelo governador do Estado, Dom Aquino Correa, a Missão procura seu auto-sustento econômico com o trabalho dos missionários, servidores não índios e Bororos, pois não é mais possível conseguir recursos de fora. Percebe-se o início de uma crise no atendimento aos índios. A Colônia Imaculada é fechada. A sede da Missão se translada dos Tachos para Meruri (no fim da década de 1920). Motivo: as áreas férteis se esgotam nos “Tachos” e as roças para sustento dos índios começam a ser feitas nas imediações do morro de Meruri. Também porque a água dos “Tachos” é insuficiente, enquanto que em Meruri as cabeceiras oferecem água abundante e sadia.
Pelos anos 1934-1935 os missionários chegaram a planejar o translado da missão de Meruri para Sangradouro. A população não índia começa a marcar presença cada vez mais numerosa e surge o sistema de atendimento por desobriga aos núcleos de garimpeiros e criadores que vão se estabelecendo na região. As viagens de desobriga são feitas a cavalo. As comunicações e transportes continuam em lombo de burro ou em carro de bois.
3° Período: de 1941 a 1965
O número de Bororos diminui ainda mais, seja pela diminuição dos nascimentos, pelo aumento de mortalidade (dos 70 Bororos batizados entre 1941 e 1960, 38 não existiam mais em 1960), e pelas mudanças de famílias para aldeias do Rio São Lourenço, se bem que alguns Bororos do Rio Vermelho vêm se estabelecer também em Meruri. O intercâmbio de pessoal Bororo por migrações de uma região para outra se acentua neste período. O atendimento aos indígenas passa ao segundo plano para atender as numerosas fazendas a corruptelas de garimpeiros que surgem na região e à escola para filhos de colonos junto com os quais estudam também as crianças Bororos.
Em 1942 tem início o internato para filhos de colonos da região e de moradores das cidades que vão surgindo, tais como, Barra do Garças e General Carneiro, onde neste período ainda não existiam escolas. Um ambulatório dá atendimento à saúde de índios e colonos.
Neste período os missionários itinerantes visitavam as corruptelas de garimpeiros, tais como, General Carneiro, Barigajao, Cachoeira Rica, Morro de Mesa, Batovi, Diamantino, Lajeado, pregando-lhes o Evangelho e administrando-lhes os sacramentos. Meruri atendia a população escolar de todas as regiões acima mencionadas, além de vários alunos internos procedentes de Barra do Garças e das cidades goianas de Bom Jardim e Piranhas.
Pela metade da década de 1950, durante a direção do Pe. Bruno Mariano, foram reformadas as habitações das Irmãs e os ambientes da Escola, sendo tudo construído com tijolo e telha.
De 1963 a 1964 foram construídas as casas de material para as famílias Bororos da aldeia de Meruri. Nesta época aparecem os primeiros veículos para transporte de mercadorias, adquiridas em Cuiabá ou Uberlândia: os caminhões e os cavaleiros. Os trilheiros de carros de bois se convertem nas primeiras estradas da região. Neles, algumas vezes por ano, transita o caminhão da missão ou de alguns comerciantes. Nesta época tem início os vôos periódicos dos aviões da FAB, vindos de Campo Grande rumo a Cuiabá.
Neste período têm início os problemas de terra: começam a ser ocupadas por não índios as áreas vizinhas à Missão e tradicionalmente usadas pelos Bororos nas suas caçadas, pescarias, inclusive áreas oficialmente reservadas para atendimento deles.
Pelos anos 1956 a 1957 chega a Meruri um numeroso grupo de Xavantes que são atendidos pela Missão e pelos Bororos até o seu translado e estabelecimento definitivo em São Marcos.
4° Período: de 1965 a 1980
É um período em que a Missão, após o longo diretorado do Pe. Bruno Mariano, começa o diretorado do Pe. João Falco, o qual dá uma virada no sistema de atendimento aos índios. A população Bororo de Meruri aumenta com a chegada de um grupo de Bororos de Pobojari (Reserva de Jarudori), conservadores da língua e tradições Bororos.
Com a fundação do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), em 1972, o compromisso missionário de evangelização passa a ser também de apoio aos índios na conservação da cultura, da língua e ao direito a um território onde possam continuar vivendo como povos diferenciados.
É construído o hospital e aprimora-se o atendimento à saúde dos Bororos com a colaboração de especialistas de Minas Gerais e São Paulo. Especialmente do Dr. Geraldo Chaves Salomon, professor da USP, o qual, num trabalho de mais de dez anos, conseguiu erradicar a tuberculose entre os Bororos e Xavantes das Missões Salesianas.
Com a venda das terras dos dois lotes, por parte do governo do Estado, os conflitos de terra chegam à sua culminância e terminam em 1976, com a re-demarcação da Área Indígena Bororo de Meruri, que custou a vida ao então Diretor e Pároco de Meruri, Pe. Rodolfo Lunkenbein e ao Bororo Simão Cristino Koge Ekudugodu. Foram assassinados por fazendeiros da região, contrários à demarcação da reserva indígena.
Tendo já escolas em Barra do Garças e General Carneiro e, morando na área demarcada somente os Bororos, o internato e externato para alunos não índios em Meruri são desativados, ficando a escola somente para alunos Bororos. Em 1973 a escola é oficialmente reconhecida como Escola Indígena Estadual. Em 1974 acontece a primeira Assembléia do CIMI Regional de Mato Grosso em Meruri. A Missão, dentro das linhas de ação do CIMI, inicia o processo de formação de professores e enfermeiros indígenas. O atendimento religioso à população não índia continua nas áreas acima mencionadas, menos em Meruri, onde se começa a dar um atendimento diferenciado aos Bororos.
5° Período: de 1980 aos dias atuais
Diminui o atendimento à população não índia a partir de Meruri pelo surgimento de novas paróquias na região, tais como São Marcos, São Joaquim e General Carneiro. E aumenta a população Bororo como resultado da demarcação da Área Indígena Bororo de Meruri, pelo atendimento mais específico à população Bororo, e pelo atendimento aos Bororos da área de Tadarimana, cujos batizados são registrados em Meruri. A população Bororo recebe atendimento específico em Meruri, enquanto a população não índia é atendida no distrito de Paredão Grande. Com o aumento dos alunos Bororos a escola, além do Ensino Fundamental cria, em 2009, também o Ensino Médio. Os professores são todos Bororos e a maioria tem curso superior. Merece destaque a criação do Centro de Cultura Pe. Rodolfo Lunkenbein, inaugurado em 2001, o qual, hoje, é referência nacional na revitalização da cultura indígena.