Início Reitor Mor “Os jovens de hoje precisam, acima de tudo, de testemunhos”

“Os jovens de hoje precisam, acima de tudo, de testemunhos”

Declaração foi feita pelo Cardeal Ángel Fernández Artime em entrevistaconcedida no último domingo (28/01)

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Cardeal Ángel Fernández Artime. Foto: ANS

Os jovens, a Congregação, Dom Bosco, a Igreja e o papel dos leigos, o testemunho, a sua história pessoal como salesiano… São muitos, e relevantes, os temas abordados pelo Cardeal Ángel Fernández Artime, Reitor-Mor dos Salesianos, na entrevista concedida por ocasião da Festa de Dom Bosco ao jornalista da Mediaset Fabio Marchese Ragona. Segue abaixo o conteúdo da entrevista, realizada em frente à Basílica de São Pedro e transmitida no domingo, 28 de janeiro de 2024, no TGCOM24, na coluna “Salas do Vaticano”.

Quem seria hoje Ángel Fernández Artime se não tivesse conhecido os salesianos?

Eu teria me tornado pescador, como meus primos ou meu pai. Este era o meu futuro. Mas quando pude estudar mais, graças aos salesianos, pensei em ser médico. Gostei tanto de medicina que pensei em entrar na universidade, mas depois o mistério de Deus faz você sentir algo no coração… Lembro que já nas portas da universidade senti que tinha que conversar sobre isso com meus pais. E a resposta, que não posso deixar de ver como uma mediação de Deus, foi: “Filho, esta é a tua vida. Se isso te faz feliz, vá!”. Este foi todo o discernimento.

Então, afinal “pescador de jovens”!

Não sei se sou realmente um “pescador”, mas certamente sempre me senti muito feliz entre os jovens. E não quero dizer que é sempre uma festa ou que todos os dias são fáceis… Contudo devo admitir que encontrei muitos motivos de alegria e de estímulo na partilha da vida com os jovens. Os primeiros que acompanhei já são pais, mas a memória extraordinária do que viveram permanece.

Como é a sua nova vida como Cardeal?

Não sei se pode ser definido como “nova vida”. Como me concedeu o Santo Padre, ainda tenho a oportunidade, alguns meses antes de receber a missão que ele considere oportuna, de completar o meu serviço como Reitor-Mor. Somos uma Congregação grande, o Superior Geral não pode desaparecer de um dia para o outro, o Papa está ciente disso, por isso pediu-nos que preparássemos primeiro o Capítulo Geral e depois falaremos do resto. Portanto, agora continuo a minha vida de Salesiano, de Reitor-Mor, concluindo muitas coisas e, ao mesmo tempo, certamente também tendo o cuidado de participar dos compromissos do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, ou das celebrações do Papa, se forem próximas a Roma.

Mas posso dizer que sigo a vida com entusiasmo, serenidade e mantendo o mesmo serviço que tenho prestado nos últimos anos.

Tendo em vista a festa de Dom Bosco, podemos dizer que a espiritualidade salesiana faz a diferença na vida da Igreja?

Bem, eu não posso dizer assim… Mas acredito que nós também devemos dar a nossa contribuição neste mosaico tão diferente. Seguir o legado de Dom Bosco significa ter no coração o desejo de estar com os jovens e, entre eles, partilhar o caminho da vida, com as suas dificuldades. E não apenas para serem simplesmente “amigos” ou com palavras. Porque hoje os jovens têm necessidade especial de testemunhas.

A Igreja é capaz de se fazer compreender pelos jovens de hoje?

Por um lado, os jovens são muito diferentes entre si, embora tenham muito em comum. De quais jovens estamos falando? Dos que vivem situações de dependência verdadeiramente dramáticas, dos que, uma pequena parte, foram à JMJ de Lisboa, dos que estão nos espaços educativos da Igreja, ou dos que simplesmente não querem saber? A questão fundamental é: “O que buscam os jovens hoje?”. E o que nós, como educadores, fazemos com isso? Não creio que os jovens de hoje não queiram conhecer Deus e muito menos que não procurem um sentido para a vida. Isso seria um julgamento errado. A verdade é que não podemos esperar que os jovens cheguem, onde nós já estamos, por obrigação.

Mas ainda é relevante, em todo o mundo, essa realidade, ou seja, que os jovens estão abertos e disponíveis se encontrarem pessoas que sejam educadores e educadoras, amigos e amigas – às vezes, até mesmo pais e mães, porque em muitas partes do mundo a paternidade e a maternidade são tão escassas…

A Igreja está mudando. É possível encontrar espaço para os leigos nas estruturas da Igreja?

Com certeza. O ponto de partida é o Concílio Vaticano II, onde há toda uma eclesiologia na qual os leigos recebem o devido reconhecimento e seu lugar. E o Santo Padre, em seu serviço nos últimos anos, está mostrando que há absolutamente um lugar para os leigos e também para as mulheres, consagradas ou leigas.

Em nossa experiência salesiana, temos centenas de milhares de leigos trabalhando ou se oferecendo como voluntários nas diversas presenças em todo o mundo. E hoje a missão salesiana seria impensável sem a presença de tantos leigos, com uma grande identidade salesiana e cristã – onde há cristãos – e outros, de suas próprias religiões, mas sempre com uma grande identidade carismática, como educadores.

O que a Igreja sonha para o futuro?

Devo dizer com toda sinceridade que me encontro em absoluta sintonia com o sonho, que vejo se tornar realidade, da Igreja do nosso Papa, que hoje é Francisco, ontem era Bento XVI. Nós, salesianos, aprendemos com Dom Bosco a dizer sempre “Viva o Papa!”. Sonho com uma Igreja que, quando os outros olharem para ela, possam dizer: “Vejam como é bonita, como eles se amam! Vejam como eles buscam o bem de toda a humanidade!”. E como é verdade que esta é uma Igreja de portas abertas, de escuta, capaz de dizer sim às vezes, e não em outras, se estivermos errados. Uma Igreja que sofre e está com aqueles que sofrem. Sonho com uma Igreja livre, livre de interesses, capaz de dizer aquilo que, em nome de Jesus, não pode ser aceito.

E em meio a 1,4 bilhão de pessoas, também pastores, que trilham seu caminho com o povo de Deus. Digo o que sempre falei em minha Congregação, pelo qual sempre lutei e que permanecerá válido mesmo quando o Santo Padre quiser me designar um novo serviço, ou seja, que não somos uma casta, não somos uma elite. O Evangelho não diz nada sobre elites: autoridade é serviço, e devemos meditar sobre isso e repeti-lo todos os dias.

O vídeo da entrevista, em italiano, pode ser assistido no canal do TGCOM 24 no YouTube.

Com informações: ANS