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Inspetoria Salesiana de Campo Grande recorda legado do Padre João Crippa no aniversário de sua morte

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P. João Crippa. Fonte: Arquivo MSMT

Nascido em 10 de outubro de 1861, em Asso, uma pequena cidade na Lombardia, Itália, João Crippa foi filho de Pietro Crippa e Fiorina Bucconi. Sua trajetória de vida foi marcada por um profundo comprometimento com a fé e a Missão Salesiana, influenciada desde cedo por encontros inspiradores com São João Bosco.

Em 25 de outubro de 1885, João Crippa ingressou no Colégio Salesiano São João Evangelista em Turim como aspirante, onde teve a oportunidade de conviver com São João Bosco. Esses encontros foram cruciais para amadurecer sua vocação e preparar-se para os desafios da vida missionária.

A chegada de Crippa à América é cercada de incertezas, com registros apontando para os anos de 1888 ou 1889. Em agosto de 1889, ele já estava no Uruguai como noviço e, em 3 de fevereiro de 1890, recebeu a veste talar das mãos do bispo salesiano Dom Luigi Lasagna, professando seus votos perpétuos. Foi ordenado sacerdote em 17 de fevereiro de 1894.

Padre João Crippa, foi transferido do Uruguai para o Brasil, onde ficou até 1912 na Província de São Paulo, trabalhando entre os fi­lhos do povo em Araras e Lorena, onde foi o primeiro diretor espiritual, que fazia ardentes votos ao Sagrado Coração de Jesus e à Nossa Senhora Auxiliadora para proteger essas boas obras, em cujo apostolado despertava vocações. Suas palavras comoviam, não só o povo, mas também convertia doutores e ignorantes. Por isso, Padre João Crippa foi muito admirado como pregador.

De 1912 em diante trabalhou na Inspetoria Salesiana de Mato Grosso, como pároco da Paróquia de São Gonçalo do Porto, em Cuiabá. No ano seguinte, começou a evangelizar os índios Bororo na Colônia Teresa Cristina. A ideia de catequizar e civilizar os índios Bororo havia sido proposta pelo presidente da província Joaquim Galdino Pimentel em 1887. Foi nas Colônias e aldeias dos índios Bororos que acompanhou o Presidente do Estado, Dom Francisco de Aquino Correa, arcebispo salesiano, na visita em que percorreu o imenso território, no tempo em que o Mato Grosso era pouco conhecido.

No início do século XX, a Missão Salesiana expandiu-se sob a liderança do P. Malan, substituto de Dom Lasagna, com a abertura da Escola Agrícola de Santo Antônio e outras iniciativas missionárias.

Com a criação da Prelazia de Registro do Araguaia em 1914, os salesianos assumiram novas paróquias e escolas, enfrentando novos desafios. Em 1919, Crippa trabalhou nas paróquias de Aquidauana e Miranda, tornando-se o primeiro pároco dessas cidades. Mesmo antes da construção da Estrada de Ferro Noroeste, ele percorreu imensas distâncias a cavalo, pregando a palavra de Deus de povoado em povoado, de lugar a lugar, visitando todas as fa­mílias, mesmo que fosse debaixo de uma temperatura de 35/40 graus. Era admirando pelos caboclos do sertão, sempre registrando que Padre João Crippa ia so­zinho.

A glória de Deus e a salvação das almas somente viam no Padre João Crippa o fogo sagrado que ardia nele; fogo que manifestava com a doçura dos modos e gentileza, que eram características pessoais que conquistavam e animavam as almas. Era “convidado especial” para visitar doentes e moribundos.

Sua trajetória na Inspetoria Salesiana de Campo Grande

Em Campo Grande, Padre João Crippa deixou um legado duradouro. Convocou um grupo de senhoras, constituindo uma comissão e, em menos de três meses, obteve e preparou o local de fundação do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Com a ajuda da Providência Divina, conse­guiu-se construir o mais amplo e moderno Colégio do Estado.

Em 1925, Padre João Crippa comprou os dois primeiros lotes para iniciar o Oratório São José, popularmente conhecido como “Capelinha”, onde hoje funciona a sede da Inspetoria Salesiana de Campo Grande – BCG.

Na humilde casa acolhia cada dia, em duas turmas, grupos de meninos de rua aos quais dava de manhã e à tarde os primeiros ensinamentos de educação e catequese. À noitinha acolhia os adultos analfabetos. Aos domingos chegava toda a juventude pobre do bairro para a santa Missa, confessar e comungar, para o lazer e receber instrução catequética.

A dedicação de Crippa era evidente em suas palavras: “Para nós é suficiente qualquer barraco, mas para Deus não deve ser assim!” Em Campo Grande, ele ficou vinte anos, vivendo na primeira sede do Oratório São José. Mesmo em seus últimos anos, suas ações e palavras inspiravam a todos ao seu redor.

Entretanto, queria construir uma igreja dedicada a São José, cuja pedra fundamental foi lançada a 15 de maio de 1938, iniciando-se a construção a 1º de setembro de 1939. Padre João Crippa é homenageado como nome de rua em Campo Grande, desde 1951.

Sua bondade sacerdotal o faz sempre lembrado pelo povo, que visita seus restos mortais e reza por ele na capela no interior da Igreja de São José, em Campo Grande.

Na Carta Mortuária do Padre João Crippa encontram-se palavras confortadoras:

Morreu, após ter-se oferecido até o fim no tra­balho que é próprio da vida missionária salesiana: desapegou-se de tudo para favorecer o povo e o Oratório Festivo para os filhos do povo.

Dando termo a esta preciosa existência, a morte levou consigo um Irmão da velha guarda: um daqueles que enfrentaram as primei­ras enormes dificuldades da Obra Salesiana no Brasil e no Mato Grosso em particular; daqueles que venceram porque animados pelo espíri­to mais puro de Dom Bosco.

Padre João Crippa faleceu aos 80 anos, em 1.º de agosto de 1941, na cidade de Três Lagoas. Sua bondade sacerdotal é lembrada pelo povo, que visita seus restos mortais na capela da Igreja São José, em Campo Grande. Suas últimas palavras, dirigidas ao Padre Inspetor, ecoam como uma profecia: “Insista, insista a fim de manter o espírito de Dom Bosco!”

Padre João Crippa dedicou sua vida a favor do povo e do Oratório Festivo, deixando um legado de fé ardente e piedade amorosa. Sua vida é um testemunho de um missionário comprometido com a glória de Deus e a salvação das almas, lembrado por suas ações e palavras que tocavam o coração de todos.

Processo Canônico de Beatificação

Durante a vinda do Reitor-mor salesiano, Dom Ángel Artime, em março desde, e em conversa com o pároco da São José, P. Paulo Roberto de Oliveira, foi sugerida a possibilidade de abertura de Processo Canônico de beatificação e canonização do Padre João Crippa, reconhecendo suas virtudes heroicas. 

O Reitor-mor salesiano considerou muito boa a iniciativa. “É muito bom termos testemunhos de santidade de salesianos por aqui também”, declarou. A ideia já está nas mãos do P. Pierluigi Cameroni, SDB, responsável pelos processos de causa de santidade na Congregação Salesiana.